A REVOLUÇÃO REPUBLICANA DE 31 DE JANEIRO, por Ruy Luís Gomes (2)
DENSIDADE DA POPULAÇÃO
O censo de 1890 dava a Portugal Continental e Ilhas Adjacentes uma população de 5 049 729 habitantes. Em 1900 contavam-se já 5 423 132. Ora, estes números correspondem a uma densidade de 56-60 habitantes por quilómetro quadrado, sensivelmente metade (1) da densidade da Europa Ocidental (ver [1], Cap. XXV).
Quer isto significar que já nessa altura a nossa população deveria ser o dobro da que registavam os censos, se a nossa economia estivesse de facto ao nível dos países industrializados. Os números encontrados são, pois, um primeiro elemento do nosso atraso (com relação à Europa Ocidental).
EMIGRAÇÃO RELATIVA
Se considerarmos agora a emigração relativa, isto é, o número de emigrantes por mil habitantes, verifica-se uma inversão completa de posições, fornecendo nós um número de emigrantes (por mil habitantes) duplo do referente à Europa Ocidental (ver [1], Cap. XXVII).
E é curioso assinalar que 1890, ano do ultimatum, marca um máximo — 29 427 emigrantes — sendo 74 002 o total correspondente ao triénio 1888-1890 (ver [1], pág. 335).
A impressão que este êxodo em massa causava no País está bem patente nestes períodos, que transcrevemos, do notável manifesto dos emigrantes de 31 de Janeiro (ver [2], pág. 421): «Ao repórter d'um periódico oficioso diz um velho de setenta anos, apontando para a andrajosa meninice que o cerca: — Aqui vamos todos: meus filhos, meus netos. Tudo vendemos em que pudéssemos apurar algum dinheiro. Fica a casa, com a chave na fechadura. O governo que a venda, se quiser.»
Oliveira Martins (ver [3], pág. 139) dá para 1880 uma emigração de 1 em 330 habitantes, mas em 1888 essa proporção sobe (2) para 1 em 200, o que bem justifica este comentário do Conde de Casal Ribeiro (ver [19]): «Temo-la [a triste supremacia] também na emigração, pois já infelizmente atingimos senão o primeiro, o segundo posto entre as nações».
Está aqui — no valor absoluto da emigração e principalmente na falta de correlação entre a densidade de população e a emigração relativa — um índice expressivo do baixo nível de vida da grande massa do Povo Português. Mas está também uma peça essencial do mecanismo utilizado pela classe economicamente dominante para assegurar as suas posições de privilégio.
Efectivamente, os cheques de remetidos pelos emigrantes por intermédio da praça de Londres, juntamente com o excedente da balança comercial com o Brasil, constituíram, pelo espaço de largos anos, uma autêntica mina de ouro... E era afinal como concessionário dessa mina que o governo da Monarquia se apresentava perante a banca da Europa Ocidental e nela levantava os fundos que lhe permitiam ir compensando os seus compromissos comerciais e financeiros — como adiante veremos.
Oliveira Martins (ver [3], pág. 139) dá para 1880 uma emigração de 1 em 330 habitantes, mas em 1888 essa proporção sobe (2) para 1 em 200, o que bem justifica este comentário do Conde de Casal Ribeiro (ver [19]): «Temo-la [a triste supremacia] também na emigração, pois já infelizmente atingimos senão o primeiro, o segundo posto entre as nações».
Está aqui — no valor absoluto da emigração e principalmente na falta de correlação entre a densidade de população e a emigração relativa — um índice expressivo do baixo nível de vida da grande massa do Povo Português. Mas está também uma peça essencial do mecanismo utilizado pela classe economicamente dominante para assegurar as suas posições de privilégio.
Efectivamente, os cheques de remetidos pelos emigrantes por intermédio da praça de Londres, juntamente com o excedente da balança comercial com o Brasil, constituíram, pelo espaço de largos anos, uma autêntica mina de ouro... E era afinal como concessionário dessa mina que o governo da Monarquia se apresentava perante a banca da Europa Ocidental e nela levantava os fundos que lhe permitiam ir compensando os seus compromissos comerciais e financeiros — como adiante veremos.
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(1) Esta proporção é ainda válida actualmente.
(2) Fica, no entanto, abaixo da percentagem de 1 em 138, que corresponde ao total de 6o 786 emigrantes (incluindo o Ultramar) em 1952 (ver [20], pág. 143).
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