Tuesday, December 06, 2005

A JUNTA DE EDUCAÇÃO NACIONAL, por Isabel Serra



A Junta de Educação Nacional (mais tarde chamada Instituto para a Alta Cultura), foi criada em 1929, na esteira da Junta para ampliacion de estudios y investigaciones científicas, fundada em Espanha em 1905. Segundo Hernâni Monteiro “o objectivo final da acção da Junta é a modernização da cultura e a indispensável renovação pedagógica, científica e económica do país, na elevada aspiração de integrar o pensamento português na corrente da cultura intelectual contemporânea, permitindo a Portugal colaborar com a sua cota parte no movimento da civilização dos nossos dias.”[1]

Uma das personalidades que influenciou decisivamente a política da Junta foi Celestino da Costa, Professor da Faculdade de Medicina de Lisboa e investigador em Histologia e Embriologia. Ainda antes da existência de uma organização que apoiasse a investigação científica, Celestino da Costa participou, durante anos, em várias comissões formadas com a finalidade de fomentar a especialização científica[2]. Quando finalmente foi constituída, a Junta foi dirigida, primeiro por Simões Raposo, e depois por Marck Athias. Celestino da Costa foi vice-presidente e, em 1934 foi nomeado presidente. Quando, em 1936, o Instituto para a Alta Cultura sucedeu à Junta de Educação Nacional, Celestino da Costa continuou como presidente. São bem conhecidas as suas posições relativamente à investigação científica, expressas diversas vezes por escrito, de que são referência as comunicações aos Congressos da Associação Portuguesa para o Progresso da Ciência[3].

A Junta de Educação Nacional previa, no seu regulamento, a concessão de bolsas de estudo no estrangeiro e no país, subsídios a centros de estudos e a publicações científicas e a serviços de expansão e de intercâmbio cultural. Entre 1928 e 1934 foram concedidas 121 bolsas para o estrangeiro (19 em pedagogia, 26 em ciências, 24 em letras, 32 em medicina, 2 em direito e ciências sociais, 2 em Farmácia, 7 em engenharia e 9 em agronomia). Em 1929/30 houve 14 subsídios para participar em reuniões científicas e entre 1930 e 1932 mais 13[4]. Ao incentivar a formação de cientistas, em especial no estrangeiro, e ao subsidiar os centros de investigação, a Junta reconhecia a necessidade de modernizar a ciência portuguesa, abrindo-lhe as portas para o indispensável diálogo com a ciência internacional.

A acção da Junta, entretanto chamada Instituto para a Alta Cultura, não se limitou a subsidiar a formação pós graduada dos cientistas portugueses. A política de Celestino da Costa dirigiu-se no sentido de uma larga internacionalização do trabalho científico, promovendo, em particular, a vinda de professores estrangeiros a Portugal, tais como Maurice Fréchet, Lawrence Bragg, Guido Beck, Alexandre Proca, F. Polaczeck, entre outros. O Instituto apoiou também outras iniciativas, tais como a formação de Centros de Investigação e a fundação de revistas científicas. Entre 1937 e 1940, só nas áreas da física e da matemática, surgem quatro revistas, duas destinadas a cientistas que publicam artigos científicos originais, a Portugaliae Mathematica e a Portugaliae Physica e outras duas dirigidas a públicos alargados, a Gazeta de Matemática e a Gazeta de Física.

[1] Monteiro, H., A Junta de Educação Nacional, Anais da Faculdade de Ciências do Porto, nº 20, p.248, Imprensa Portuguesa, Porto, 1935.
[2] Monteiro, H., A Junta de Educação Nacional, Anais da Faculdade de Ciências do Porto, nº 21, pp. 51-53, Imprensa Portuguesa, Porto, 1936.
[3] Costa, Celestino da, A educação do médico, Discurso Inaugural da 7ª secção do VI Congresso Luso Espanhol para o Progresso das Ciências, Tomo I, pp. 123-132, Lisboa, 1932. Costa, Celestino da, O espírito científico da medicina, X Congresso Luso Espanhol para o Progresso das Ciências, Tomo I, pp. 166-180, Porto, 1942.
[4]Monteiro, H., A Junta de Educação Nacional, Anais da Faculdade de Ciências do Porto, nº 21, p. 57, Imprensa Portuguesa, Porto, 1936.


Nas fotografias pode-se ver, por esta ordem: Simões Raposo, Marck Athias e Celestino da Costa.

Ver ainda: Marck Anahory Athias (1875-1946), A. Celestino da Costa e Guia bibliográfico para a história das Ciências biomédicas em Lisboa entre 1890 e 1950.