Fernando Soares David, primeiro Prémio Nacional de Francisco Gomes Teixeira (1945)
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Merece um destaque especial
um trecho do artigo de Ruy Luís Gomes,"Tentativas feitas nos anos 40
...", que diz o seguinte :
" O jovem Fernando
Soares David, aluno do 3º ano de Curso de Matemática, que havia abandonado o
Curso de Engenheria, atraído pela actividade do C.E.M.P. [Centro de Estudos
Matemáticos do Porto], seguiu o Seminário orientado por A. Proca, durante todo
o seu funcionamento, e foi aí que começou a revelar a sua vocação para Física
Teórica, estudando já, com certa subtileza, características simples de uma
partícula fundamental com carácter não conservativo."
E este trecho merece um
destaque especial, porque Fernando Soares David estudou apaixonadamente
Matemática e Física Teórica e, nesse mesmo artigo, Ruy Luís Gomes, ao
referir-se à actividade desenvolvida em 1945, lembra que
"Ainda em 1945, o
estudante do 4º ano de Matemática, Fernando Soares David, de que já tivemos
ocasiões de falar, conquistou em concurso público o Prémio Nacional de
Francisco Gomes Teixeira, com um trabalho intitulado "Sobre a
Comutabilidade de Operadores com Espectros contínuos".
Foi esta a primeira vez que
o prémio nacional Gomes Teixeira foi concedido e, por isso, a sua repercussão
foi muito grande."
E, como a repercussão foi
muito grande, um jornalista do Diário de Lisboa entrevistou-o. Na entrevista
publicada em 24 de Dezembro de 1945, com o título "O Laureado do Prémio
"Dr. Gomes Teixeira", fala-nos das deficiências do ensino da
matemática em Portugal", Soares David afirmou :
"Para mim o curso
superior foi uma decepção quase total. Não encontrei aí programas actualizados,
salvo uma ou outra excepção, nem estímulo à iniciativa pessoal e à
investigação, nem tempo para estudar, com os dias sobrecarregados de aulas
práticas de manhã e à noite.
O que a Universidade me não
deu - e que era indispensável para completar as raras técnicas clássicas, quase
sempre imperfeitas, nela adquiridas -, fui encontrar no Centro de Estudos
Matemáticos do Porto."
Esta entrevista serviu de
pretexto para impedir Soares David de seguir uma carreira universitária.
Apesar dos esforços de Ruy
Luís Gomes para lhe conseguir uma bolsa que lhe permitisse ir para um bom
centro estrangeiro, onde pudesse doutorar-se em Física Nuclear, nada foi
conseguido.
No mesmo dia, 14 de
Dezembro de 1945, em que o prémio lhe foi atribuido, Ruy Luís Gomes pediu, para
Soares David, uma bolsa para Inglaterra, junto de Mark Oliphant, ou para os
Estados Unidos, junto de Enrico Fermi. A bolsa não foi concedida!
Pouco depois, em 29 de
Janeiro de 1946, em resposta a um pedido do I.A.C. para indicação de nomes dos
estudantes mais indicados para bolseiros fora do país, Ruy Luís Gomes mencionou
novamente o nome de Soares David, para trabalhar sob a direcção de Schrödinder,
em Dublin, ou sob a direcção de Fermi ou Urey, em Chicago, ou ainda sob a
direcção de Wentzel, na Escola Politécnica Federal de Zurique. Mais uma vez, a
bolsa não foi concedida!
Já no fim do ano de 1946,
em resposta a um ofício do Reitor da Universidade do Porto, pedindo a indicação
de especialidades, para as quais fosse necessário reservar bolsas a serem
utilizadas em 1947, mais uma vez Ruy Luís Gomes, entre as bolsas a reservar,
indicou, em primeiro lugar, uma bolsa para Física Teórica, a fim de não se
perder o trabalho realizado no Centro de Estudos Matemáticas do Porto, por
Guido Beck, Proca e outros, e sugeriu que essa bolsa fosse posta a concurso.
Nem assim a bolsa foi concedida!
De modo que, Soares David,
para poder exercer uma profissão, depois de diplomado em Matemática e diplomado
em Geofísica, regressou à Faculdade de Engenharia a fim de completar o seu
curso de Engenheiro Electrotécnico!
É um facto que, depois como
engenheiro da Hidroeléctrica do Cávado e, posteriormente, da E.D.P.
[Electricidade de Portugal], seguiu cursos relacionados com a energia atómica,
em Paris e na Bélgica ; participou em Simpósios em Lisboa e em
Southampton ; ministrou cursos na própria Hidroeléctrica do Cávado e na
E.D.P., na Ordem dos Engenheiros e no Serviço de Neurologia do Hospital de
Santo António ; publicou trabalhos nas revistas "Gazeta de
Matemática", "Electricidade", "Engenharia" e Boletim
do Centro de Aperfeiçoamento Técnico da Hidroeléctrica do Cávado.
Tudo isso é verdade.
Mas é um facto também, e
muito doloroso para os que foram seus companheiros, que a Universidade do Porto
não tivesse aproveitado directamente a sua imaginação criadora, a sua
capacidade de trabalho, a sua dedicação para a formação de novos quadros
universitários, por ter sido brutalmente impedida de o fazer.
Após a sua reforma pela
E.D.P., ainda regeu alguns cursos na Universidade Católica. A sua morte
prematura, ocorrida há poucos meses, impediu a Universidade Católica de
continuar a beneficiar do seu saber e da sua capacidade de convivência e
comunicação.
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