«Nota oficiosa» sobre as expulsões de 14-18 de Junho de 1947
O documento aqui reproduzido consta do Arquivo da PIDE/DGS, relativo a Manuel Valadares, existente na Torre do Tombo (IAN/TT).
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(...)
As razões das expulsões de 1947, estão já
bem identificadas nas duas citações anteriores. Mas pode-se ir ao pormenor.
O governo deliberou que todos os
militares (11) e 13 professores (os primeiros da lista em anexo) estavam «abrangidos
no artigo 1º do decreto-lei nº 25317»: «Os funcionários ou empregados,
civis ou militares que tenham revelado ou revelem espírito de oposição…».
Aos restantes 8 professores não foi aplicada essa disposição legal,
provavelmente, porque o seu vínculo laboral era diferente. Se não era claro
antes, fica mais claro agora: os expulsos eram da oposição política ao governo.
Mas, na «Nota oficiosa» que então
publicou, o assunto fica ainda mais claro. Quanto aos militares, diz o governo:
«Certo da sua razão e seguro da sua
força, o Governo quase deixou desenvolverem-se livremente acontecimentos e
actividades que nos últimos tempos conduziram à preparação simultânea de mais
de um movimento subversivo. (…)
Não fez alargar as investigações
relativas ao acto sedicioso liquidado na Mealhada em Outubro de 1946, nem à
intentona que em 10 de Abril findo procurou inutilmente promover actos de
rebelião na zona Tomar-Tancos-Entroncamento.»
Confirmei que 10 dos militares expulsos estiveram
envolvidos no 10 de Abril de 1947. Os militares da tentativa de golpe de 10 de
Outubro de 1946, já tinham sido julgados e estavam presos.
Quanto aos professores o governo sente-se
na obrigação de dar uma explicação mais pormenorizada:
«Paralelamente a estas tentativas
revolucionárias, diversos processos de desordem se esboçaram em Lisboa e
noutros pontos do País. Fez-se a greve nos estaleiros e nalgumas outras zonas
industriais da capital e fomentou-se a agitação dos meios académicos, especialmente
universitários, com reuniões de protesto contra medidas policiais, além de
legítimas, estranhas à vida escolar. Ostensivamente ou por detrás desta
agitação, estava uma incipiente organização juvenil em que se depositaram
esperanças exageradas, visto não ter sido possível aos dirigentes manter
ocultas por muito tempo a inspiração e tendências do movimento.
Tratava-se de perturbações de carácter
nitidamente político e não académico. E tanto que só foi impossível pôr-lhes
termo por meio de acção exclusivamente académica, onde as autoridades escolares
e o próprio ambiente da escola lhes eram propícios. É sabido que houve
professores e assistentes que ostensiva ou veladamente animaram a agitação e os
agitadores. Mostraram interessar-lhes mais o apostolado ideológico do que o
exercício do seu múnus docente.»
Aqui, o governo faz referência à greve,
que durou 21 dias, de milhares de operários dos estaleiros navais e de outras
indústrias, que terminou vitoriosa mas também com centenas de prisões. É
curiosa esta associação que é feita entre operários, MUD Juvenil e professores
universitários. Se quisermos reunir em poucas palavras as razões pelas quais os
professores foram expulsos, talvez bastem quatro: Movimento de Unidade
Democrática.
(...)
Excerto de Sobre as perseguições a cientistas durante o fascismo (Revista Vértice 166)
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